A questão das alterações climáticas está hoje na ordem do dia e é uma das prioridades da agenda política, tanto na União Europeia (UE), como a nível mundial. Contudo, a maioria das pessoas interroga-se sobre o que efectivamente se está a passar e quais os riscos envolvidos. Filipe Duarte Santos explica ao Planetazul o que são as alterações climáticas, os seus efeitos e como podem afectar o estilo de vida das sociedades actuais.
Porquê a preocupação global?
Antes da Revolução Industrial, a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera era de 280 partes por milhão de volume (ppmv). Desde então houve um aumento superior a 37%. Efectivamente o valor médio, em 2008, foi de 385 ppmv e se, globalmente, continuarmos a emitir ao ritmo actual a concentração atingirá valores da ordem de 800 ppmv em 2100. O aumento de concentração resulta das emissões crescentes de CO2 para a atmosfera onde, em média, permanece cerca de 100 anos até se dissolver nos oceanos ou ser sequestrado pelas plantas verdes no processo da fotossíntese. As emissões provêm principalmente da combustão dos combustíveis fósseis – carvão, petróleo e gás natural – e das alterações no uso dos solos, especialmente a desflorestação.
O que são as alterações climáticas?
O CO2 é um dos principais gases com efeito de estufa (GEE), ou seja, tem a capacidade de absorver a radiação infravermelha emitida, sobretudo pela superfície da Terra. A presença na atmosfera de vários GEE provoca um efeito de estufa natural que aumenta a temperatura média global de –18ºC para os actuais 15ºC que permitem a manutenção da vida na Terra. Se aumentarmos a concentração dos GEE a temperatura média global irá aumentar inevitavelmente e os fenómenos meteorológicos e climáticos extremos tenderão a ser mais frequentes e intensos. Secas mais frequentes e prolongadas nas regiões onde já existem, como é o caso do Sul da Europa e da Região Mediterrânica onde Portugal se insere. Episódios mais frequentes de precipitação muito intensa em intervalos de tempo curtos, o que aumenta o risco de cheias. Ciclones tropicais mais intensos. Há incertezas nos cenários climáticos futuros obtidos com modelos que simulam o sistema climático, mas o mecanismo do efeito de estufa é muito bem conhecido e resulta das leis fundamentais da física, cuja modificação está fora do nosso alcance.
Ou travamos, desde já, as emissões globais de dióxido de carbono ou teremos alterações climáticas mais acentuadas com impactos negativos cada vez mais graves sobre os recursos hídricos, agricultura, florestas, biodiversidade, saúde, zonas costeiras, pescas, turismo, zonas urbanas e seguros. Um dos aspectos mais preocupantes é a subida do nível médio do mar resultante da dilatação das águas superficiais do oceano, provocada pelo seu aquecimento, e da fusão dos gelos dos glaciares das montanhas e dos campos de gelo das regiões polares. É provável que o aumento do nível médio do mar, relativamente ao período pré-industrial, atinja cerca de um metro em 2100, com impactes muito significativos para centenas de milhões de pessoas que vivem nas zonas costeiras baixas.
Como responder ao problema?
Há essencialmente dois tipos de respostas complementares: a mitigação ou a redução das emissões de GEE e a adaptação, que consiste em procurar minimizar os impactes adversos das alterações climáticas. Na mitigação das alterações climáticas, não basta alguns países reduzirem as emissões; é necessário reduzir as emissões globais. Estamos perante um desafio gigantesco, porque o actual paradigma económico mundial tem uma enorme dependência dos combustíveis fósseis, os quais correspondem a cerca de 80% das fontes primárias de energia à escala global. Se as emissões globais anuais não se reduzirem de, pelo menos, 50% até 2050 relativamente às emissões de 1990, teremos aumentos da temperatura média superiores a 2º C até 2100, o que nas regiões continentais corresponde a valores superiores, da ordem de 3 a 4ºC.
Estamos presentemente numa fase crucial das negociações no âmbito das Nações Unidas para constituir um regime climático pós-Quioto que substituirá o Protocolo de Quioto, cuja vigência termina no final de 2012. A UE adoptou recentemente uma redução unilateral das emissões de 20% até 2020, na esperança de que isso será compatível com o crescimento e a competitividade económica e servirá de exemplo ao resto do mundo. Em poucas décadas, as economias emergentes – China e Índia, em especial – irão emitir mais do que os países desenvolvidos com a utilização massiva do carvão para atingirem os níveis de desenvolvimento económico e qualidade de vida destes países. A solução passa por investir mais na investigação e desenvolvimento das energias renováveis e em tecnologias de captura e sequestro de CO2.
Ambas as respostas às alterações climáticas têm custos. Reduzir muito e rapidamente as emissões de CO2 tende a desacelerar a economia. Porém, reduzir pouco e lentamente as emissões de CO2 tem, no futuro, um efeito semelhante, porque implica custos acrescidos resultantes dos impactes mais graves e medidas de adaptação mais onerosas. Estamos perante um desafio à nossa capacidade de solidariedade inter-geracional. Seremos capazes de juntos caminharmos para um mundo sustentável ou a nossa herança para as gerações vindouras será um mundo cada vez mais dividido e insustentável?
em: http://www.planetazul.pt/edicoes1/planetazul/desenvArtigo.aspx?c=22...
24.11.09
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